Retornar ao teatro Abril para muitos é simplesmente ir ao teatro,mas pra muitos outros, inclusive pra mim,não é só isso.
Quando se tem um musical do coração onde este foi encenado ali,seja ele Lês Misérables,A Bela e a Fera ou Miss Saigon, enfim, quando foi ali naquele imponente teatro que se despertou essa verdadeira paixão por teatro musical,retornar ao Abril é sempre uma nostalgia.
Quando vamos,olhamos com carinho aqueles lustres, aquele piso, aquelas escadas e nos lembramos sempre da primeira vez que os vimos, sem sabermos, até então, o que nos esperava.
No meu caso fui num certo mês de outubro a contra-gosto ver O Fantasma da Ópera onde ao sair daquele teatro eu nunca mais seria a mesma e nunca mais falaria dos musicais de forma tão preconceituosa.
Ou melhor, não fiz! Tive a chance de ver e na época não vi.
Como dizia a Fera: “se eu soubesse bem lá atrás,o quanto eu fui cruel demais.”
“O destino vem cobrar seu preço.”
Mas fazer o que?
Máquinas do tempo não existem,a realidade é essa e eu só tinha que aceitar.
Porém,há momentos mágicos na vida da gente que acontecem quando sonhos tornam-se realidade.
Nunca imaginei que Saulo daria vida novamente a sua Fera.
Um presente precioso do destino colocado cuidadosamente em meus braços,contrariando a regra de que cavalo selado não passa duas vezes ou de que um raio não vota a cair no mesmo lugar.
Destino este que por um puro capricho da maldade me coloca bem longe em Ushuaia, na patagônia Argentina simplesmente a última cidade do planeta (literalmente no fim do mundo)justo no dia da estréia desse Fera,sem contar que não me devolve a Bela dessa Fera!
Surpresa com o que, Anne?!
Eu,outra vez ao templo onde a musica e´musa e deusa,respirando sua atmosfera nostálgica,sempre um bálsamo pro meu ser.
Mas havia algo de diferente, algo além nessa atmosfera, algo muito especial, algo mágico que palavras não descrevem, apenas o coração sente.
Não foi difícil saber afinal o que eu sentia. Encontrei rapidamente a resposta. Eu sentia a presença do SENHOR DO ABRIL ali. Impressionante como sinto o Abril diferente quando Anjos da Música voltam a pisar naquele palco.
Saulo Vasconcelos está absolutamente brilhante em sua atuação.
Mais do que vestir aquele figurino, Saulo,vestiu a alma da Fera, incorporou a personagem de tal forma que com sua voz vigorosa de Fera(nos momentos de fúria),
nos amedronta tanto que dá-nos a impressão de que ela vai nos atacar na platéia de tão real.
Em contra partida, em outros momentos transforma-se no mais frágil dos seres.
Nos momentos cômicos, não vi uma Fera infantilizada e sim ingênua bem adequada ao que se propõe na trama.
Seu solo foi de uma emoção sem igual. Quando o cenário se aproxima e começa a girar, fui aos prantos,voz linda, impecável.
Quanta dor ao permitir que Bela partir-se,pude sentir seu coração aos pedaços.
Essa versatilidade de Saulo é de impressionar, ele faz parecer fácil o que na verdade não é.
A valsa, um capítulo a parte,a Fera começa toda quadrada com muita dificuldade nos passos, mas com boa vontade em aprender e assim que vem a confiança sai pro centro do palco numa leveza fabulosa,linda dança.
Qual seria o segredo de se saber transitar entre a raiva e a amabilidade, alternado-se tão rapidamente entre esses dois extremos com tamanha maestria?
Técnica?
Dom?
Parabéns por sua Fera, Saulo Vasconcelos.
Finalizo dizendo: quem já o viu como Fera,voltem mais uma vez ao Abril, porque depois, não haverá retorno mais.
Quem ainda não o viu, vão querer fazer como eu fiz em 2002?