sábado, 11 de fevereiro de 2012

De Abba à Priscilla, ator diz não ter problema em fazer papel de t-lover

Depois de musical do Abba, Saulo Vasconcelos vai encarnar t-lover no musical “Priscilla

Saulo: preocupação é fazer bem feito
Saulo: preocupação é fazer bem feito
O ator Saulo Vasconcelos vai fazer uma ponte no mínimo interessante em 2012 e sairá diretamente do elenco do musical “Mamma Mia!” para o palco de “Priscilla, a Rainha do Deserto”. Depois de quatro musicais de sucesso no currículo, ele se preparar para viver o mecânico Bob, que se apaixona por uma das três drags louquíssimas a bordo do ônibus super pintoso.

Saulo conversou com a gente e disse estar super tranquilo com seu personagem porque “o ator não tem sexo, não tem religião, não tem nada disso” e promete subir ao palco do Teatro Bradesco, em São Paulo, a partir de 17 de março de 2012 para amar loucamente, e sem preconceitos, uma transexual em seu primeiro personagem gay no Teatro. Ele contou tudo pra gente, confira:





Depois de tantos musicais, você ainda faz teste?

Tive que fazer teste como todo mundo, mesmo com doze anos em carreiras de musicais quase exclusivamente. Porque tem que ver é adequado para o papel. Tem que fazer mesmo que seja para comprovar que você tem condições.

E os testes já eram para o Bob?


Foi direcionado sim. Quando eu cheguei o meu empresário tinha entrado em contato com a produção e disseram que eu podia fazer o teste para Bob, as pessoas mesmo que escolhem o elenco e conhecem o espetáculo pela foto já te analisam e encaminham para um papel específico.

Como você recebeu a notícia de que atuaria no “Priscilla”?

Fiquei bem contente porque será o primeiro musical no Brasil tão moderno, tão novo em folha. Apesar de o público conhecer o filme da década de 90, mas o musical foi lançado no ano passado na Broadway. Os musicais anteriores que vieram para o Brasil todos eles tinham no mínimo 10 anos de idade. Já tinham uma outra linguagem, não dá pra falar que antiga, mas outra linguagem.

Já está buscando referências para montar o Bob?


Meu papel como ator é chegar no dia do ensaio com o conhecimento mínimo do que o personagem é, do que ele representa. O mais interessante para mim é chegar com a mente vazia para não imitar a produção americana. Vai ser idêntica como na Broadway, mas a criação dos atores a gente pode fazer individualmente, de mente aberta, sem pré-concepção, como o cara faz lá fora. Quero criar tudo a partir do zero. Fica mais brasileiro. Quando o “Mamma mia!” chegou ao Brasil tinha umas piadas meio americanas, tivemos que rever o texto, coisas que os personagens não falariam, mudar a tradução para o português. Vamos fazer “Priscilla” para ser o mais próximo possível da cultura brasileira, apesar de ser americano. Não sei ainda como serão as músicas, se em inglês ou em português.

O Bob será o único bofe do ônibus, o resto dos passageiros é só de pintosas.


Ele conhece essas drag queens louquíssimas e divertidíssimas e se apaixona por uma delas. Vai ser meu primeiro personagem gay no palco, já fiz em 2008 uma participação na Record em um episódio de “A Lei e o Crime” onde vivia um cara que confundia um travesti com uma prostituta mulher, mas ele curtia o travesti.

E como foi fazer uma cena tão íntima?


Eu olhava pro travesti como se fosse uma mulher linda na minha cabeça. O ator não tem sexo, não tem religião, não tem nada disso. Tem que fazer como se fosse real.

E como é essa nova paixão por uma trans?


A vida dele muda porque ele é casado com uma oriental e descobre que não é aquilo que ele quer. Tem uma certa polêmica pro público paulistano, que é um público aberto, mas ainda longe de aceitar a homossexualidade. Mas o paulistano está mais à frente do que o povo da região Norte e Nordeste, por exemplo. Acho que o futuro é que o mundo seja gay. Que seja uma coisa normal, que não se pense no homossexual como uma coisa diferente. Ser gay e administrador de empresa é a mesma coisa, é só um adjetivo. Não deve existir isso. Espero que meu personagem ajude de certa forma as pessoas a aceitarem isso.

Como você recebeu a notícia de que seria um mecânico que se apaixona por uma trans?

O artista é um ser humano um pouco mais desencanado com esse tema. Convivo com bissexuais, homossexuais, metrossexuais, todas as tribos no ambiente de trabalho. Eu não vejo como tão polêmico. Vou ter que beijar um cara, mas tudo bem. A questão é maior que essa. Tanto o Bob quanto a Bernadete tem trajetória, tem profundidade. A Bernadete tem a questão da idade, não está mais no auge dos tempos passados. Claro que eu faço parte de um público que não é médio, que lida com essa questão com certa cautela por ter certa cultura, não tem essa ideia passada por pais e avós preconceituosos. Convivo com gays e bissexuais o tempo inteiro em todos os níveis, em todas as profissões. Vejo o atrativo do espetáculo em outras coisas.

E está preparado para dar o beijo na boa?

Não estou nem pensando no beijo, a gente na hora faz. Não tem porque ficar me preocupando com esse tipo de situação. Gera um desconforto para mim no sentido de buscar uma coisa real, passar realidade no público, a mesma preocupação que teria se fosse beijar uma mulher em cena. A preocupação é fazer as pessoas acreditarem que meu personagem é autêntico, que ele é seu vizinho, o cara da academia, qualquer pessoa.

Bob é um bofe, masculino, sexy. Você está fazendo alguma preparação corporal?


Se o personagem exigisse eu me preocuparia, mas naturalmente me exercito, corro dia sim dia não sete quilômetros, faça chuva ou faça sol. Faço fortalecimento muscular porque já faz parte da rotina do ator ser saudável para não se lesionar tanto durante a temporada. Mas acho que o Bob não é tipo do que anda sem camisa, mecânico marombeiro, ele é mais discreto, mais low profile. Não tem apelo físico.

E Bob quer viver feliz para sempre com seu novo amor?


Espero que sejam felizes para sempre sim, não é porque sejam fisiologicamente do mesmo sexo que vai ser mais difícil. Mas é difícil ser feliz pra sempre em qualquer união. Espero que não acabe o encanto da paixão inicial. Que se compreendam, sejam companheiros, morram velhinhas brigando. Mas não acredito muito no feliz pra sempre.

Você viu o filme?


Vi há muito tempo, achei divertido. Me faz lembrar “Para Wong Fu com carinho”, que também é legal, tem Patrick Swayze e Wesley Snipes de travesti dando pinta, era inimaginável. Tem vários filmes assim que eu gosto, com atores muito bons. O perigo de fazer um travesti assim divertido é você ridicularizar. Porque são pessoas que têm seus problemas, que pagam contas, às vezes parecem pessoas frívolas que não tem nada pra acrescentar e não é assim. Elas não vieram ao mundo a passeio ou a trabalho, vieram a compras.

Você percebe um crescimento no ramo dos musicais?


A oferta cresceu, o público cresceu, o mercado de trabalho especializado também cresceu com mais técnicos, produtores, diretores. “Priscilla” vem com uma grande empresa por trás. Tem um elenco muito bom também. O travesti mais jovem, o Andre Torquarto, já fez quatro musicais, é um veterano já. Foi meu filho na “Noviça Rebelde”.

E você já fez quantos musicais?

“Fantasma da Ópera”, “Mamma Mia!”, “Cats” e “Os Miseráveis”...

Você encerrou com sucesso “Mamma Mia!”, com músicas do Abba. Vai sair do mundo do Abba para o de Priscilla, pura gayzice.

Foi um ano e um mês em cartaz com “Mama Mia!”, se despediu bem. Vai ser quase um mundo gay para outro, porque Abba é gay também. Mas vamos embora. Eu brinco, mas é só mais um espetáculo.

“Priscilla, Rainha do Deserto” – 17 de março de 2012
Teatro Bradesco: Rua Turiassu, 2100 - Perdizes - Shopping Bourbon – São Paulo
www.teatrobradesco.com.br

2 comentários:

  1. Só assisti Priscilla uma vez numa circustância esquisita, e não tô querendo assistir de novo antes da peça estrear para ser uma "novidade" na minha cabeça...Ansiosíssima!

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  2. Não perco por NADA!!!!!Talita

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