quinta-feira, 17 de junho de 2010

Miados candangos

Estrelas de superproduções musicais em São Paulo, os brasilienses Saulo Vasconcelos e Sara Sarres fazem sucesso em Cats


Sérgio Maggio

Publicação: 18/06/2010 07:00 Atualização: 17/06/2010 21:46

Os brasilienses Saulo Vasconcelos e Sara Sarres comungam de um mesmo sonho. Estrelas de grandes musicais, como O fantasma da ópera e Cats, eles queriam tanto que capital da República abarcasse as superproduções que tomaram conta de São Paulo. Quem sabe até montar uma que espelhasse a própria história. Ou ainda fazer um mix com os melhores quadros desses musicais.

— Um espetáculo que falasse dos candangos, da Legião Urbana, do jazz ou do chorinho. Dos nossos representantes e suas meias ou daqueles que realmente lutam por nós. De uma família qualquer do Plano Piloto ou do Gama. Temos tudo: drama, comédia, tragédia. Bastam um roteirista, um compositor e um bom produtor apaixonados por Brasília. Garanto que atores não vão faltar, aposta Sara.

— Faz mais de 10 anos que não me apresento em minha cidade. Gostaria de ir a Brasília em grande estilo. Talvez num show reunindo os maiores sucessos da Broadway que já fiz: O fantasma da ópera, A Bela e a Fera, Les misérables, Cats, Noviça rebelde. Ou mesmo com um espetáculo daqui de São Paulo. Quem sabe Cats, propõe Saulo.

Desde o fim da década de 1990, quando as franquias dos musicais da Broadway instalaram-se, com força de indústria na América Latina, intérpretes vindos de Brasília viraram ouro. Saulo Vasconcelos, por exemplo, venceu audição, em 1999, para ser o protagonista de O fantasma da ópera, concorrendo com candidatos das Américas e da Europa. Estreou na Cidade do México e fez 400 apresentações para 880 mil espectadores. Sara Sarres segue o caminho com coleção de musicais invejáveis. Hoje, eles emendam montagens e despertam o interesse dos produtores. Afinal, o que há de diferencial na formação de canto na capital?

— Sem sombra de dúvidas, o forte movimento coral da cidade. Temos corais amadores e profissionais premiados, inclusive internacionalmente, que infelizmente o grande público não faz nem ideia que existem. E alguns deles hoje se tornaram companhias de musicais amadoras que batalham pra fazer montagens independentes por aí, aponta Sara.

— Hoje Brasília precisa criar escolas especializadas, contratar mestres com mais conhecimento do ramo. Eu vim de uma geração praticamente autodidata, que pagava pelos melhores professores particulares, tanto de teatro como de canto, pra obter o maior conhecimento possível. Morro de saudade de meus tempos de Coro Sinfônico Comunitário da UnB, quando tive meu primeiro contato, amador, com o canto. Foram anos maravilhosos de minha vida, destaca Saulo.

Hoje, mergulhados numa rotina profissional, eles têm que se relacionar com aspectos bem específicos do teatro musical. O intérprete é completo. Tem que cantar, dançar e atuar. É preciso ter disciplina para cuidar da voz e um treinamento quase atlético a fim de dar conta dos ensaios e apresentações. Sara aponta que o ideal é o envolvimento desde criança, como nos Estados Unidos. A história dela é uma exceção no Brasil. Quando menina, dividia-se entre o colégio, aulas de balé, a Escola de Música de Brasília, que frequentou por 13 anos.

— Na adolescência, além das aulas, ainda participei de todos os corais, bandas e orquestras que conseguia encaixar nos meus horários. Tinha ensaios de segunda a segunda. Acho que foi assim que criei a resistência para fazer seis a sete espetáculos por semana, destaca Sara.

— No caso do ator de musicais, é primordial que se interprete as canções pensando numa outra pessoa cantando aqueles versos. Existe uma história sendo contada na canção. Há um porquê, um sentido muito específico. Não é como uma música popular, por exemplo, na qual você pode interpretar a letra de qualquer forma. A letra e o texto falado em forma de música servem à narrativa, emenda Saulo.

Público encantado

Amigos e sócios, Sara Sares e Saulo Vasconcelos planejam montar Jane Eyre, da escritora inglesa Charlotte Brontë. Enquanto isso, divertem-se em Cats, superprodução que tem temporada até agosto no Teatro Abril (São Paulo). Ali, miam na fantástica história que encanta o mundo, a partir da montagem londrina em 1981. Cats é adaptação de 14 poemas do escritor norte-americano T. S. Eliot, que, após observar o comportamento dos seus gatos, criou a obra para os filhos. Sara conta que a reação do público deixou o elenco nas nuvens.

— A peça é bem diferente do que vemos na tevê. É mais dinâmica, pra cima. Em todas as sessões, as pessoas vibram e deixam o teatro cantando e dançando. Pra nós, não existe satisfação maior, destaca Sara, que vive a gata Jellylorum.

A música mais esperada é Memory, interpretada por Paula Lima, que vive a gata Grizabella. Saulo ficou tão extasiado com a felicidade da plateia, que decidiu acolher, no intervalo do primeiro para o segundo ato, os espectadores.

— Fiquei com o pé atrás com um espetáculo que já tem quase 30 anos e nenhuma atualização foi feita pra montagem brasileira. Mas a reação é surpreendente. As pessoas chegam com um sorriso largo na boca para me dizer que estão maravilhadas com o astral da montagem, destaca Saulo, o gato Old Deuteronomy.

Cats tem seis sessões semanais (de quinta a domingo), com ingressos que variam de R$ 240 (setor VIP) a R$ 50 (balcão promocional). Localizado no bairro de Bela Vista, o Teatro Abril possui capacidade de 1.530 lugares. A casa está lotando, mas é possível comprar com antecedência pelos telefones 4003-5588. Venda para grupos: (11) 2846-6232. Informações do espetáculo: www.musicalcats.com.br.



Três perguntas para - Sara e Saulo

Por que Brasília ainda não tem um mercado para musicais?

Sara — Brasília infelizmente não tem público para suportar uma temporada de musical, ópera, ou grandes montagens em geral. Geralmente, o máximo possível é ficar em cartaz por uma semana. Por isso que só recebem grandes espetáculos em turnê ou montagens esporádicas para quatro sessões.

Saulo — Brasília tem um mercado. Só ainda não foi explorado. É claro que o público é menor do que em São Paulo, ainda mais pelo tamanho das duas cidades. Mas Brasília está sendo explorada como um mercado receptor de espetáculos em caráter temporário. O espetáculo vai até Brasília e fica uma curtíssima temporada. O problema é que para os megamusicais de São Paulo se deslocarem até aí seria necessário mais tempo em cartaz, para poder repor o investimento feito. Além de ter um teatro à disposição quase que exclusivamente para peça, pois cenários enormes e figurinos exigem espaço pra serem guardados, provavelmente a produção não admitiria a possibilidade de outra peça ou espetáculo em cartaz, paralelamente.

O musical genuinamente brasileiro está, sobretudo, no Rio. Existe uma preferência dos produtores na escolha do tipo de intérprete de um musical da Broadway para o nacional?
Sara — Não, o pré-requisito é sempre o mesmo: atuar, cantar e dançar. E hoje em dia as montagens “genuinamente brasileiras” seguem o mesmo padrão de excelência e exigência das montagens internacionais. O que tem deixado o mercado bem mais competitivo. Quem ganha é o público, com várias peças de qualidade em cartaz ao mesmo tempo.

Saulo — Diria que existem perfis de atores, como para qualquer espetáculo. O ator que estiver capacitado para estar num espetáculo Broadway, geralmente aquele que teve uma formação e influências diretamente ligadas ao estilo Broadway, será escolhido pra esse tipo específico de espetáculo e vice-versa quando for no caso dos espetáculos nacionais, como Tieta, South American way e Sassaricando, para citar alguns exemplos.

Até o momento, qual foi a produção mais marcante na carreira?

Sara — O fantasma da ópera, como Christine.

Saulo — Em termos de projeção, definitivamente O fantasma da ópera. Em termos de alegria de estar em cena e feliz com o trabalho, A Bela e a Fera e, agora, em Cats. Les misérables foi meu primeiro espetáculo de grande porte no Brasil, e Noviça rebelde, meu primeiro sucesso sem maquiagem, num papel de ator, inesquecível. Difícil escolher, né?

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