Sempre
fui bicho do mato. Sempre gostei de fazenda, de água, de árvore, de natureza.
Em 2009 eu estava num período de pausa em "A Noviça Rebelde",
enquanto mudávamos nossa temporada do Rio para SP City. Depois de muito pensar,
resolvi fazer uma viagem pra Patagônia - uma região gelada que fica ao sul da
cordilheira dos Andes, dividida entre a Argentina e Chile
Como
quase tudo na vida que eu acho legal e espontâneo, resolvi fazer tudo de última
hora, sem muito planejamento. Quando você planeja, acaba se frustrando porque
quase nada sai do jeito que você esperava. Além do mais, já tinha uma lista de
alguns lugares que queria muito visitar - Nova Zelândia, Austrália (esses dois
lugares basicamente por causa do ótimo documentário de surf "Endless
Summer 2" que mostra lindas paisagens desses países), Egito, etc.
Bom, a
Patagônia era um deles e pra lá que eu fui. Quando cheguei ao destino final -
Parque Nacional Torres del Paine, no lado chileno - foi que começou minha
jornada. Passei mais ou menos uma semana por lá, no meio de paisagens incríveis
com vistas que só quem foi pode começar a compreender a maravilha que é essa
região. (min 5:00 do vídeo)
Até me lembro que, antes de partir daqui do Brasil, me perguntavam, com certa pena, o porquê de eu fazer essa viagem sozinho. Achei isso interessante. Me fez pensar a respeito da incapacidade que algumas pessoas tem de serem felizes na companhia delas mesmas.
E foi pra
isso que eu fiz essa viagem. Pra estar feliz comigo mesmo. Não tinha nenhum
drama rolando. Ninguém tinha morrido. Não estava em crise. Às vezes,
simplesmente, é muito bom estar com você mesmo. Você pode ser alguém muito
diferente do que é na realidade do dia-a-dia, por isso escolhi sempre roteiros
longos onde estivesse distante do resto da excursão.
Me
hospedei no hotel Las Torres. O lugar mais
próximo possível de todas as trilhas e lugares incríveis. Tudo bem que eu gosto
de aventura - com caminhadas longas de 6 à 10 horas - mas também gosto muito de
poder me jogar numa cama confortável depois de um bom jantar num restaurante com
uma vista deslumbrante.
E foi
nesse clima que fiz minhas trilhas, que começavam às 8 da manhã e terminavam
quando o sol se punha.
Isso me
mudou, me trasformou. Essa combinação de meditação, vistas espetaculares, de
tirar o fôlego, a coragem de encarar isso sozinho... Passar muito tempo
caminhando e pensando te faz refletir muito sobre a vida, amigos, família,
amor, trabalho, saúde. Poder estar em silêncio ou ao som de músicas no iPod por
tantas horas, te levam a lugares em sua mente que trazem um novo entendimento
de vida. Você é conduzido, de maneira espontânea e prazerosa, a estar com você
mesmo de uma forma completa, única. (Meu vídeo)
Isso me
abriu o coração pra ter conversas maravilhosas com pessoas desconhecidas. Saber
um pouco das suas histórias de vida.
Me lembro
de um casal. Ela era italiana e ele alemão. Nos encontramos no momento em que
cheguei ao topo da trilha que leva à base das Torres del Paine. Dividimos um
lanchinho bem mixuruca, mas que naquela altura do campeonato, era a coisa mais
deliciosa do mundo. E conversamos. Eles me falaram que estavam juntos havia
cinco anos, que já haviam feito trilhas em montanhas suíças. Falamos de
trivialidades, da fome que estava insuportável, do frio,mesmo sendo verão. E
depois ficamos em silêncio, admirando a paisagem castigados constantemente por
ventos fortes.
E então comecei minha caminhada de descida pra encontrar a pessoa que deu origem ao título do texto. Não me lembro mais o nome dela. Mas já estava na metade do caminho de volta, quando parei numa pousadinha bem simples que fica às margens de um rio - acho que se chama Campamento Torres. Me sentei numa das mesas de madeira que fica ali pra me servir de uma última refeição pra segunda metade da volta ao hotel.
E nessa mesa estava essa mulher, chilena, de seus 26 anos. Começamos a conversar e perguntei o que ela fazia ali. Trocamos mordidas de sanduíches e barras de cereal. Havia também uma amiga com ela. Falamos da vida, coisas um pouco mais profundas, com leveza e a alegria de estar ali.
Então, começamos a segunda parte da descida, até que uma hora nos separamos. Eu achei que à essa altura do campeonato estava até rolando um clima, mas quando vi que íamos nos separar, desencanei. E ela disse: "Saulo, sabe onde está o segredo do universo? Nas flores. Observe uma flor e você vai saber que lá está a resposta pra tudo".
Quem me conhece sabe o que passou pela minha cabeça. Mil e uma piadas e tiração de sarro. Eu sou um cara sensível, trabalho com isso, mas... "O segredo do universo está nas flores....??? Pô!!!". Porém, por algum motivo eu perguntei a lógica daquilo. E ela não me deu uma resposta racional pro que diabos aquilo queria dizer.
Nos
despedimos, eu voltei pro, hotel, passei mais uns tantos dias fazendo mil e um
trekkings e passeios à cavalo. Voltei à São Paulo, voltei a sentir
"stresses", relaxei com novas férias e novas aventuras, passei por
mais um punhado de musicais e hoje, quase 3 anos depois eu ainda me lembro
dessa pessoa e da pergunta que ficou na minha cabeça, depois de passada a
vontade de falar que ela estava bem louca de drogas alucinógenas: "o que
ela viu nas flores que eu não vi?"
Um
pouquinho mais de Patagônia!
Saulo Vasconcelos
O que ela viu é tão claro... tenho certeza q você sabe a resposta!
ResponderExcluirtexto fantastico.....e , diferente da sua recomendação em ler qnd não se tem nada pra fazer, li sim quando eu tinha algo pra fazer, mas que eu sempre gosto dos seus textos...vc é adorável...Sou sua fã!! Talita
ResponderExcluirSaulo,vc é top,demais.....Amei esse texto e viajei contigo enquanto lia....super recomendei no meu face!<3
ResponderExcluirLindo texto... Para ler logo por sinal! Não quando estiver sem nada para fazer!
ResponderExcluirSaulo querido...que belíssima experiência ...acho que vc se deu conta que nós fazemos parte de tudo isso, pois por incrível que pareça sempre achamos que tudo é tão óbvio, não é mesmo?... se tocamos na nossa essência tocamos no universo e ele veio a vc !
ResponderExcluirParabéns pela jornada, parabéns pela descoberta, parabéns pelo texto...bem vindo ao verdadeiro mundo: seu interior e a natureza !
Bjossssss
Monica
A vida se conta por momenttos e pessoas que nos fazem perder o fôlego e perceber que o segredo não está nas respostas e sim, nas perguntas. Lindo texto! bj, te amo
ResponderExcluirLembro quando te indiquei a operadora para fazer a viagem e, um ano depois, eu mesma fiz. Tive as mesmas impressões, a mesma sensação que você teve. Na Patagônia, nós percebemos o quão pequenos somos nesse mundo...e o quão forte é a natureza. Por mais barbaridades que o homem faça, alguns lugares ainda resistem...e com grande força. Esse lugar é Torres Del Paine...é Los Glaciares também.
ResponderExcluirAo contrário de você, eu preferi acampar, acordar com aquelas montanhas nevadas bem na minha frente...e foi a melhor coisa que fiz.
Eu estava completa, eu alcancei uma paz inimaginável até então.
Conheci outras pessoas, mas o processo de "me encontrar" foi mais forte. Em Los Glaciares, conheci a Cachoeira Margarita, em homenagem a uma turista que parou de frente para esse lugar durante a trilha e nunca mais foi vista...fiquei um tempão ali, sentada na mesma pedra em que ela ficou. Pensei nela, nos motivos para deixar a vida que tinha, como deve ter vivido e o que aconteceu. Na minha cabeça, naquele momento, ela parecia estar ali...admiro pessoas que tem coragem de mudar...eu vivo em constante mudança, estava em um período de mudanças, ainda estou...acho que tudo começou nessa viagem. E ela mudou meu modo de ver a vida, o jeito de tratar as pessoas, de definir prioridades, ela me mudou completamente. =)
A cachoeira pra mim, é a flor para você...
Uma vez eu fui pra ilha do mel indicado por uma amiga, essa ilha fica no litoral do paraná e é um espetáculo, conheci pessoas que só falei naqueles uns dias, por exemplo um jovem soldado de jerusalém que nunca mais vi é claro mas que pelo nosso papo acabei esquecendo que não estava acampado no lado da ilha em que me encontrava conversando com ele, e odia estava indo embora e eu tive que voltar para o meu lado da ilha enquanto o sol se esvaia, porque só havia luz natural. É claro que não deu tempo de chegar ao outro lado da ilha com aluz do sol, e o que senti naquela noite o medo e a consciência de solidão profunda e ao mesmo tempo de estar intimamente ligado a toda aquela energia da naturezqa selvagem alteração minha precepção das coisas para sempre e até hoje a minha vida... A sequência logarítimica no desenho da cabeça de um girassol explica tudo
ResponderExcluirParabéns por vc ser uma pessoa tão dedicada ao seu trabalho, ontem te vi no programa do Jô, nossa, vc é um ótimo cantor e uma pessoa ilária.
ResponderExcluirAINDA QUERO FAZER UMA VIAGEM SOSINHO...EU COMIGO MESMO!!!LINDAS IMAGENS DA PATAGONIA!!!
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