quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Saulo Vasconcelos - O Rei dos Musicais



"Penso há 10 anos atrás eu vejo um negócio desses: falam 'o rei dos musicais'. As vezes num tenho noção disso. Tipo 'to' ali jogando vídeo game com os amigos e não 'to' prestando atenção nisso. Estudei para isso, faço o meu personagem com a minha voz e pronto, não é?!"



E é... a simplicidade de um gigante. O gigante gentil empõe respeito na altura, mas o talento ultrapassa facilmente esse'gigantismo'.

Consegui o privilégio, o prazer, de conversar com este astro minutos antes de sua preparação para o espetáculo, e o resultado desse encontro vocês conferem aqui:

São 10 anos na estrada... Qual o gênero mais difícil de estar trabalhando dentro do musical?

O gênero ‘Cats’. Musicais estilo ‘Cats’, que exigem além de que você esteja em perfeita saúde vocal, que você tenha um condicionamento físico fenomenal. Em ‘A Bela e a Fera’ também foi muito pesado. Todos os que eram personagens de cena - os objetos do castelo, o relógio, o candelabro, o bule e a fera - todos eles tinham roupas muito pesadas e se movimentavam muito. Aquilo ao longo prazo vai machucando, porque é um peso extra e um calor que o corpo não está acostumado e vai cobrando o preço quando se faz sete espetáculos semanais nessas condições.

Aqui em ‘Cats’ não é diferente, porque temos 26 ‘atores-atletas’, fora eu a Paula que praticamente não fazemos parte do núcleo de dança. Nós somos uma coisa a parte mesmo: eu fico mais sentado, pois o meu gatinho é um senhor de idade e líder espiritual. Ele fica sentado o tempo todo ali no fundo. E a Paula, ela também é uma gata já velha e meio que se arrastando, renegada pela tribo... Então não temos muito isso. Mas o espetáculo ‘Cats’ é um dos mais difíceis, inclusive em termo de preparação física.





Você trabalha hoje com o Nuno Cobra, que já foi preparador de Ayrton Senna...

Estou trabalhando com ele, mas foi uma grande coincidência no final, porque eu estou buscando um pouco mais de qualidade de vida. Eu acordava com dor de cabeça, nas pernas e um pouquinho sem ânimo para começar o dia, e com ele isso simplesmente acabou -passou – curou.


Tem mais alongamento, mais resistência no caso?

É uma coisa muito difícil de explicar... Tem que ler o livro dele pra entender. Nem atrevo a explicar. O livro dele chama ‘A Semente da Vitória’, e para ter uma idéia, o livro já tem mais de 90 edições.

Realmente o trabalho dele é muito tranqüilo. É dia sim, dia não, no máximo uma hora e é uma coisa que traz pra você um benefício impressionante. Ele não fala de forma física assim de estar malhado e forte. Você pode olhar para uma pessoa que está bem fisicamente, super saudável, super bem-disposta, e ela está um pouquinho acima do peso, com olheira e o aspecto externo não tem nada a ver.

Em tua formação acadêmica, você se formou exatamente em que?

Eu cheguei a abandonar meu curso de economia no último semestre porque fui chamado pra fazer o Fantasma da Ópera, e desde então não tive tempo pra poder pensar em fazer faculdade. Não aconselho isso, não sou um exemplo a ser seguido, mas também acredito que a educação no Brasil, no meu ponto de vista, na minha opinião singela, precisa ser melhorada. Porque nós às vezes somos obrigados a estudar muitas coisas que não se aplicam! Ou então, temos uma rotina massacrante de estudos e quando nos formamos estamos tão devastados, cansados para começar a trabalhar, sabe... Então acho que tudo isso tinha que mudar entendeu? Tem que mudar um ‘pouquinho’ a educação no Brasil. Mas não, eu não cheguei a completar...



Na parte artística então você não fez uma faculdade...

Não. Eu sempre estudei com ‘os melhores professores que o dinheiro podia pagar’. Porque, por exemplo, no Brasil se você quer estudar teatro musical, não tem. Tem umas escolas, mas você não consegue entrar em uma Universidade pra se formar em teatro musical. Ou você faz música, ou você faz artes cênicas. Você não tem como fazer um pouquinho dos dois...

É triste, mas é verdade..






E cuidados com a voz? Quais você tem?

TODOS...

Qual a rotina para manter a voz?

Primeiro você evitar um pouquinho de álcool em excesso. Por exemplo, eu tomo uma taça de vinho todos os dias, obrigatoriamente. Porque é super saudável, não porque eu adore vinho, não viva sem vinho... Nem faço questão, mas é porque é saudável.

Mas é bom controlar. Por exemplo, você encher a cara num sábado sendo que tem dois espetáculos no domingo, num é certo. Mas dá para ir até mais tarde, tomar umas 4, 5 caipirinhas num domingo a noite, que tem até quinta feira pra recuperar.

Laboratório para o teu personagem, como foi? Chegou a observar os gatos velhos?

Observei mais o leão, que é maior, mais forte, como seria eu. E observei que ele tem gestos muito lentos, mesmo quando ele está andando, anda com um certo peso, você sente a musculatura dele... Não é uma coisa igual o ‘filhotinho’ de gato, não é?! E todos os dias chegávamos 30 min antes de começar os ensaios (na época em que estávamos ensaiando para estrear o espetáculo) pra fazer improvisações de gatos, orientados pelo nosso diretor, o Richard. E ele falava: ‘agora vocês estão alertas’, ‘agora apreensivos’, ‘agora relaxados’, ‘agora vão dar voltas no espaço e explorar pequenos objetos no chão’... Mas isso como um gato ‘neh’... Isso te da base, porque o diferencial desse espetáculo é isso. Você não tem um ator fingindo que é um gato. Você tem um pessoal que está o tempo todo atento, de prontidão – felinos.


No caso qual o gatinho que você, Saulo, e não teu personagem, escolheria para reencarnar no céu dos gatos?

Escolheria a Grizabela mesmo, por compaixão... A personagem da Paula Lima por uma questão de compaixão, porque depois que ela canta ‘Memory’ não tem como não perdoar! Que é exatamente quando ele perdoa e fala ‘olha você é escolhida, você vai para o paraíso’. Mas se não fosse ela, a segunda opção seria o GUS, que é um gato velho que é um ator e tem tremedeira, paralisia, está bem velhinho já... Eu o escolheria.

O ator que faz ele também faz o Bustopher Jones... Ele é ótimo: Fernand Patau. Faz 2 papéis, e ainda faz parte do coro...



Você lançou um single...

Foi lançado em dezembro do ano passado, e está sendo vendido aqui no teatro exclusivamente ou por Internet, e também em algumas livrarias. São duas faixas ‘Pretty Words’ e ‘Baby Baby’, coloquei uma faixa bônus para pelo menos valer a pena...

Parte de composição, você trabalha nisso também?

Trabalho mais ou menos... As composições são de André Cortada. Eu dava um toquinhos, assim, sabe, às vezes a música se perdia um pouco e eu falava: ‘não ó, condensa mais isso aqui’... Porque eu tenho noção de composição e regência, já estudei isso com ‘os melhores professores que o dinheiro podia pagar’, como eu já disse antes. Então você tem uma noção de quando a música se perde um pouco, ai você fala: ‘não, repete aqui a estrofe’, ‘faz o refrão assim’, ‘explora mais esse tema blá blá blá’. Mas, por exemplo, em ‘Baby Baby’ eu não mexi em nada. Ele que fez tudo assim, perfeito! Estava uma música pronta já, não dei ‘pitaco’ nenhum. Na ‘Pretty Words’ sim, dei vários ‘pitacos’.

E essa é a vertente musical que você está querendo seguir em sua carreira de cantor solo?

Foi coincidência. Meu agente me levou até o André Cortada e conheci o trabalho dele como compositor e falei ‘ah quero gravar algumas faixas’. Mas, por exemplo, poderia fazer um trabalho com músicas de musical, com grandes composições de musical. Poderia ser uma coisa com a voz mais impostada, poderia... Mas acho que é mais verdadeiro assim, fazer uma coisa mais solta, mais leve. Muito diferente do que eu faço aqui no palco. De repente fazendo assim um ‘popzinho’, mas um pop diferente, com uma certa qualidade vocal. Acho que o que diferencia o produto é isso, quando você tem uma formação que vem do lírico, do teatro musical e vai gravar um cd pop, você coloca uma coisa sua ali sem perder o estilo... E acho que isso é o diferencial...





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Encerramos a entrevista para que Saulo pudesse se ‘maquiar’ e ‘entrar’ no personagem, faltando menos de uma hora para o início do musical.

A temporada de Cats no Teatro Abril infelizmente já acabou... O musical foi agora para o Rio de Janeiro... (sem Saulo Vasconcelos) e a curtíssima temporada será de 16 de outubro à 21 de novembro.

Mas se você já está com saudades dos GRANDES musicais, aguardem!

Em novembro, estréia MAMMA MIA, outra grande obra que virá nos brindar os olhos, e ouvidos! Os grandes sucessos do ABBA narrando uma linda história de amor pela vida!

Revista Sopranini

Um comentário:

  1. Só faltava eu ler essa matéria e dar de cara com um "ele conversou comigo enquanto escutava um cd demo de uma fã"! hahaha
    Linda matéria, adorei a parte do "não sigam meu exemplo" hahaha. Pode deixar, eu termino a faculdade antes de resolver virar uma estrela do teatro musical! hihi

    beijo,

    @vivianenobre

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