quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Mamma Mia! (A Moda Paulistana)



Por Sergio Roveri

Formado na Suécia em 1972, o grupo pop Abba se converteu rapidamente em uma espécie de Beatles da segunda divisão. Vendeu tanto, criou quase tantos hits e foi tão assediado quanto a banda inglesa. Mas, ao contrário dos garotos de Liverpool, o quarteto sueco nunca viu seu repertório ser associado à poesia e à sofisticação – se os Beatles criaram músicas para corações e mentes, o Abba se concentrou na região das pernas e quadris. Dezenas de canções dançantes, de letras pueris e refrões hipnóticos, fizeram do Abba um dos maiores vendedores de discos da história – quase 400 milhões de cópias. Mais importante do que as cifras, entretanto, é constatar que o tempo parece ter perdoado o grupo por qualquer resquício de breguice e mau gosto: o Abba, hoje, é uma banda de valor sentimental inestimável para milhões de pessoas que, numa noite qualquer dos últimos 30 anos, deixaram o recato de lado para encontrar a felicidade já nos primeiros acordes do eterno hit Dancing Queen.








Tudo isso posto, não é surpresa que as canções do grupo tenham inspirado um dos mais bem-sucedidos musicais dos últimos tempos, Mamma Mia! Desde sua estreia, em 1999, este híbrido de peça-show já foi visto por 45 milhões de pessoas, responsáveis por movimentar uma bilheteria de US$ 2 bilhões em 270 cidades ao redor do planeta. A partir desta sexta (12), São Paulo passa a alimentar estes números estratosféricos com a estreia da versão brasileira de Mamma Mia!, que comemora os dez anos do Teatro Abril, o principal templo dos grandes musicais do País. "Não há dúvidas de que este sucesso planetário irá se repetir por aqui, já que Mamma Mia! reflete o espírito brasileiro de celebração, alegria e ligação familiar", diz Stephanie Mayorkis, diretora da Área de Teatro da Time For Fun, empresa produtora do espetáculo.





O musical não pretende ser um mero tributo à banda, tanto que as canções, traduzidas para o português, são empregadas para alinhavar a narrativa de um pequeno drama familiar. Perto de completar 20 anos, a jovem Sophie Sheridan (representada aqui pela atriz e cantora Pati Amoroso) decide convidar o pai desconhecido para sua festa de casamento com o garotão Sky. O problema é que ela não sabe quem é seu pai biológico: a garota é fruto de um entre três relacionamentos praticamente simultâneos que sua mãe, Donna Sheridan (Kiara Sasso, estrela de A Bela e a Fera, A Noviça Rebelde e O Médico e o Monstro) manteve no final da adolescência. Na dúvida, a garota convoca os três candidatos. Um dos prováveis pais, Sam Carmichael, é interpretado por Saulo Vasconcelos, galã de Cats e O Fantasma da Ópera. A chegada desses três homens e de duas velhas amigas da mãe vai incendiar a rotina do Villa Donna, pequeno e deficitário hotel que Donna Sheridan mantém em uma ilha grega.

"Em todos os países em que o musical é apresentado, as canções são traduzidas para o idioma local como forma de facilitar o entendimento do grande público", diz o diretor musical David Holcenberg. "Como no Brasil o Abba continua sendo um grupo muito popular, decidimos criar, no final do espetáculo, um pot-pourri com três canções no original em inglês, Dancing Queen, Mamma Mia! e Waterloo". Segundo Holcenberg, a execução das canções em inglês, com legendas, iria esvaziar o enredo e jogar toda a atenção da peça em cima do próprio Abba. "Os criadores do musical, que por sinal são meus chefes, fazem questão de que o público acompanhe a história de Donna Sheridan e sua filha, e não somente as canções do grupo".

As 23 músicas do Abba apresentadas em Mamma Mia!, que leva ao palco um elenco de 32 atores e uma orquestra de dez músicos, foram traduzidas para o português por Claudio Botelho. O musical inspirou, há dois anos, umaadaptação cinematográfica de enorme sucesso. Rodado na ilha grega de Skopelos e dirigido por Phyllida Lloyd, Mamma Mia!, o filme, foi estrelado por Pierce Brosnan, Amanda Seyfried e uma hilariante Meryl Streep no papel que é feito agora por Kiara Sasso. "A Meryl Streep é bem mais velha do que a personagem, e isso obrigou os produtores a elevar a faixa etária do restante do elenco do filme", diz Sasso. "Eu acho que estou mais próxima da idade real da personagem do que Meryl, embora sua atuação tenha sido estupenda".

A polêmica sobre a pouca idade de Kiara Sasso que, aos 31 anos, interpreta a mãe de uma garota de 20, parece ter sido encerrada, a uma semana da estreia, por uma declaração do diretor do espetáculo, Robert McQueen: "Quando eu assisti ao teste da Kiara, vi que tinha encontrado a atriz perfeita para o papel", disse. "E o importante era encontrar a atriz perfeita, e não alguém que tivesse a idade perfeita. A atriz que fez Donna Sheridan na montagem de Las Vegas, por exemplo, tinha pouco mais de 20 anos".



SAULO, SEM MÁSCARA.




"Ao contrário dos outros musicais que já fiz, em que tudo vinha pronto dos Estados Unidos" – diz Saulo Vasconcelos – " Mamma Mia! nos deu a chance de estudar o texto, de discutir as características dos personagens. Tivemos tempo de entender o objetivo de cada uma das cenas. Foi um trabalho feito com muito carinho. Estou feliz também porque, depois de muito tempo, posso mostrar minha cara no palco. Em Cats e O Fantasma da Ópera, eu sempre me escondi atrás de máscaras."


DOIS PRA LÁ, DOIS PRA CÁ.

Kiara Sasso, 31 anos, e Saulo Vasconcelos, 36, formam o primeiro casal dos musicais brasileiros. Mamma Mia! é a quarta vez em que eles contracenam – já estiveram juntos em A Bela e a Fera, O Fantasma da Ópera e A Noviça Rebelde. A seguir, trechos do depoimento de Kiara Sasso sobre esta nova produção. "Estou achando ótimo fazer este espetáculo porque, até hoje, eu sempre fui a mocinha. Agora eu sou a mãe da mocinha. Eu não me inscrevi para os testes iniciais porque me achava nova demais para viver a mãe e velha demais para representar a filha. Resolvi me candidatar quando eu soube que a produção ainda não tinha encontrado a atriz para fazer a Donna Sheridan, depois de duas baterias de testes. Está sendo uma alegria participar de um trabalho tão solar, principalmente depois de ter feito O Médico e o Monstro, uma peça escura e soturna."

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