07 de novembro de 2010 0h 00
Ubiratan Brasil - O Estado de S.Paulo
Quando foram abertas as audições para o Mamma Mia! brasileiro, Kiara Sasso ficou interessada mas logo desanimou por acreditar não ter perfil para nenhum papel. "Eu me achava nova demais para fazer a mãe, Donna, e muito velha para interpretar a filha, Sophie", conta a atriz que, conformada, integrou o elenco de outro musical, O Médico e o Monstro, que estreou em julho.
Dias depois, ao conversar com Andrezza Massei, que interpreta Rosie, uma das amigas, Kiara descobriu que o papel de Donna continuava vago. "Tomei coragem e, na única hora que tive de folga dos ensaios do Médico, fiz meu teste." Para saber o resultado, basta acompanhar o depoimento do americano Robert McQueen, encarregado da direção geral da montagem brasileira: "Tão logo Kiara terminou seu teste, tive a certeza de que tínhamos nossa Donna. Ela é sofisticada como atriz e trouxe material que aprimorou o personagem".
Não se trata de elogio gratuito - uma das principais atrizes de musicais do Brasil, Kiara tem uma voz potente e cristalina, que ela sabe moldar com interpretações convincentes. Sua interpretação para The Winner Takes It All, por exemplo, é carregada de emoção, permitindo que a canção exerça a função adequada na trama, ou seja, o desabafo de Donna diante de um dos ex-namorados, Sam, vivido por Saulo Vasconcelos.
A dupla se reencontra, aliás, pela quarta vez em musicais - contracenaram também em A Bela e a Fera, O Fantasma da Ópera e na montagem paulista de A Noviça Rebelde. "É incrível como nos entrosamos rapidamente, independente do papel interpretado", comenta Vasconcelos que, assim como Kiara, exibe uma versatilidade vocal e cênica.
Para Mamma Mia!, apesar da precoce experiência, ambos necessitaram de uma preparação especial. "No meu caso, era uma mudança de geração, pois, até então eu só interpretava a mocinha e agora passaria a ser a mãe da mocinha", conta Kiara. "E, no meu, eu vinha de Cats, no qual interpretei Old Deuteronomy, o gato velho e sábio, e agora vivo um dos pretendentes a pai", completa Vasconcelos.
Direção. Novamente, o papel de Robert McQueen foi fundamental. Segundo os atores, habituados a trabalhar com diretores estrangeiros vindos especialmente para adequar a montagem ao original, McQueen foi além de suas funções - não só incorporou um pouco da vivência de cada ator em alguns detalhes (a forma de andar, de movimentar os braços, de mexer a cabeça), como os incentivou a alcançar as necessidades exigidas pelos diferentes papéis.
Kiara, por exemplo, descobriu como é ter a vivência de criar filhos até eles se casarem. "Robert nos fez dissecar o texto até descobrir a psicologia do personagem", completa Saulo Vasconcelos. "Entendemos cada palavra, a função de cada personagem e o caminho que a peça tinha de tomar. Isso não é comum entre diretores de musicais, normalmente mais interessados em adequar a interpretação com as canções."
Essa sincronia é mais importante do que aparenta e incentiva uma discussão que ressuscita a cada estreia de musical em São Paulo, quando as canções originais são traduzidas para o português. Por trazer sucessos tão conhecidos do ABBA, os produtores de Mamma Mia! foram questionados sobre a possibilidade de as letras forem preservadas em inglês, traduzidas por legendas que seriam projetadas no alto do palco - exatamente como acontece em óperas.
"Nossa intenção não é a de fazer um tributo ao ABBA mas o de utilizar suas canções para contar uma história", comenta o produtor David Holcenberg. "É importante que o público consiga se identificar com os personagens e, para isso, é necessário que a letra seja compreendida."
Gênero. De fato, ópera e música envolvem a combinação de letra e música. Mas nos musicais a letra é predominante e o contrário é válido para as óperas. Se essa diferença é aceita, então os outros aspectos definidores de cada gênero - estilo de canto, orquestração, papel dos diálogos falados, importância da melodia, grau adequado de complexidade musical - se encaixam.
Independentemente da quantidade de diálogos falados, os grandes musicais da Broadway têm um formato na sequência das canções que seus criadores seguem fielmente. Um musical não pode ter intervalos muito grandes entre as canções, do contrário perde-se o equilíbrio do show. "É essa preocupação que deve prevalecer durante a tradução das letras", conta Claudio Botelho, ator e diretor que se tornou referência no trabalho de versão - ele prepara, por exemplo, as canções de Evita, que Jorge Takla vai estrear no próximo ano.
Para Mamma Mia!, os detalhes importaram. "Tive várias conversas com os americanos, que me questionaram os motivos da escolha de determinada palavra, da sonoridade conseguida, da compreensão da letra", conta Botelho. "Há um interesse muito grande na relação da música com a trama."
Nesse ponto, também a coreografia surge como fiel da balança. Em Mamma Mia!, as danças são vibrantes e extremamente atléticas. "Usamos movimentos de dança contemporânea dos anos 1970, 80 e 90, incluindo disco, hip hop e um toque de movimentação grega", explica a coreógrafa Janet Rothermel. "O que mais me agrada é perceber que o público, especialmente o brasileiro, é capas de se relacionar com a música, a história e a coreografia. Cada um observa um pouco de si mesmo no palco."
Sucesso
Um dos musicais mais festejados, como mostram os números
45 milhões de espectadores em...
270 cidades de vários países, arrecadando....
2 bilhões de dólares durante...
11 anos de apresentações
MAMMA MIA!
Teatro Abril. Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 411, Bela Vista.
Telefone 4003-5588. 4ª a 6ª, 21 h; sáb., 17h e 21h; dom., 16h e 20h. R$ 80/ R$ 250.
Nenhum comentário:
Postar um comentário